A Bacia

Walter Wust

Os rios
O rio Putumayo-Içá, ancestralmente conhecido como “rio dos peixes” na língua murui, é o décimo maior afluente do rio Amazonas. Sua bacia mede 121.201 Km², o que equivale a 1,8% da bacia amazônica. O rio começa sua jornada (cerca de 2.000 Km) rio acima na cordilheira dos Andes na Colômbia, de onde deságua no Equador e no Peru, conectando rios, lagos e florestas alagadas, e chega ao Brasil, onde deságua no rio Amazonas (Solimões). O Putumayo-Içá recebe águas dos rios Yaguas e Cotuhé, duas das mais diversas bacias hidrográficas do mundo em termos de fauna e flora.

As florestas
As florestas da bacia do Putumayo Içá estão entre as últimas grandes florestas intactas do mundo. Mais de 75% de seu território são áreas de conservação, territórios indígenas ou áreas propostas para conservação, o que tem contribuído para o bom estado de conservação das florestas e de elevados níveis de biodiversidade, o que garante a prestação de serviços ecossistêmicos essenciais para a região e o mundo.

As espécies
Na bacia, foram registradas os seguintes:
– cerca de 380 espécies de peixes;
– mais de 210 espécies de anfíbios;
– mais de 230 espécies de répteis;
– mais de 1050 espécies de pássaros;
– mais de 270 espécies de mamíferos.

Entre os répteis, destacam-se o jacaretinga (Caiman crocodilus) e o jacaré-negro (Melanosuchus niger), categorizados como vulneráveis na Colômbia e com uma das maiores populações da região amazônica; e cinco espécies de tartarugas que são importantes para as comunidades indígenas locais: tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis), pitiú (Podocnemis sextuberculata), mata-mata (Chelus fimbriatus) e jabuti-tinga (Chelonoidis denticulata).

As espécies de peixes de importância ecológica e econômica são o pirarucú (Arapaima gigas), a aruanã-prateado (Osteoglossum bicirrhosum) e o bagre migrador (Pseudoplatystoma punctifer), entre outras.

Walter WustA bacia do Putumayo-Içá é o lar ancestral de povos indígenas de 18 etnias diferentes; Estima-se que cerca de 45% da bacia seja formada por terras indígenas. A oralidade e outras formas culturais próprias são fundamentais para que esses povos transmitam seus conhecimentos relacionados à conservação da floresta e da biodiversidade, aos espaços de uso, às técnicas de caça, plantio ou colheita e ao uso dos recursos naturais em práticas como medicina ou culinária. Na segunda metade do século XX, a parte alta da bacia recebeu grande afluxo de outros grupos indígenas (Nasa, Awá, Pasto, Emberá-Chami, Emberá-Katio e Yanakona) e de populações migrantes (comunidades camponesas e afro-colombianas), que, a maioria deles chegou lá depois de ter sido deslocada de seus próprios territórios. As comunidades vivem ao longo do rio principal e seus afluentes, e os meios de subsistência tradicionais giram em torno da pesca, caça, produtos florestais madeireiros e não-madeireiros e agricultura de pequena escala. Na Bacia, foram identificadas 72 organizações de base que representam povos indígenas, afrodescendentes, artesãos, mulheres e pescadores. Compreender, respeitar e proteger a sua gestão tradicional do território é fundamental para a conservação desta região, assim como de toda a bacia amazônica.

Walter Wust

A maioria das comunidades vive ao longo das margens de rios navegáveis durante todo o ano, garantindo fácil acesso a ambos os lados da fronteira Peru-Colômbia e da fronteira Peru-Colômbia-Equador, bem como a jusante no Brasil. Muitas famílias possuem canoas com motor de popa (conhecidas localmente como Peques) e organizações locais fornecem transporte comunitário. Algumas áreas rurais e urbanas com mais de 45.000 habitantes, como Orito e Puerto Asís, contam com infraestrutura de serviços públicos como hospitais, ensino médio e ensino técnico, em alguns casos.

A economia da bacia do Putumayo-Içá tem sido historicamente determinada por um produto ou atividade em expansão: quinino (1616-1885), borracha (1880-1912), peles de animais (início dos anos 1960), coca (1980 até o presente) e óleo de palma (de 1957 até o presente); atividades que exerceram diferentes tipos de pressão sobre os recursos naturais, incluindo a conversão de áreas naturais. Nos últimos anos, outras atividades produtivas, como agricultura, pecuária, mineração e extração de madeira, contribuíram significativamente para as economias locais e provocaram mudanças na cobertura do solo e na qualidade da água.